sábado, 27 de agosto de 2011

Cruz de São Damião



                            Cruz de São Damião       fonte: AQUI


Um artista italiano desconhecido pintou no século XII 
num pano colado sobre uma madeira de nogueira a 
Cruz de São Damião Ele possui 2,10m de altura, 1,30m 
de largura e 12cm de espessura. Provavelmente o 
Crucifixo permaneceu na Igreja de São Damião até que 
as irmãs Pobres, em 1257, o levaram consigo à nova 
Basílica de Santa Clara.
Guardaram-no no interior do coro monástico por 
diversos séculos. No Ano de 1938, a artista Rosária
 Alliano restaurou o Crucifixo com grande perícia, 
protegendo-o inclusive contra qualquer deterioração.
Desde 1958, o Crucifixo original de São Damião 
está guardado com grande zelo pelas irmãs Clarissas.
 Ele está sobre o altar, ao lado da capela do Santíssimo,
 na Basílica de Santa Clara, protegido por vidro, 
e é visitado por estudiosos, devotos e turistas do
 mundo todo. É um monumento histórico franciscano
 e universal.

Teologia da Luz
O grande destaque do Crucifixo de 
São Damião 
são os seus enormes olhos. São grandes, 
brancos, 
têm linhas pretas e vermelhas acima 
e abaixo para se destacarem mais.
São olhos de amor, de paz, 
que se dirigem para todos, 
mesmo os que estão longe, oferecendo a luz 
de Deus.
O jovem Francisco deve ter ficado 
extasiado
 com tanta luz deste Cristo. 
É Jesus na Cruz, é Jesus na ressurreição 
e é Jesus na Ascensão. Sempre luminoso.
Porque ele é “a luz que brilhou 
nas trevas” (Jo 1,9-10)
A luz do Crucificado fez Francisco 
olhar para si mesmo e perceber que, 
lá dentro, tudo era escuridão. Sem que se 
desse conta, a luz de Deus já fizera com 
que aprendesse a olhar para dentro.
Então, Francisco orou:
“Sumo e soberano Deus, iluminai as trevas 
do meu coração. Dai-me uma fé reta, 
esperança certa, caridade perfeita, 
bom senso e conhecimento, Senhor,
 para que eu cumpra o vosso santo e 
verdadeiro mandamento.
São Francisco orando diante do Crucifixo 
de São Damião, na concepção artística
 de Gioto, na basílica do Santo em Assis.


No Crucifixo de Francisco 
e Clara há 
o mínimo de Sangue: 
é o que brota 
das chagas e nos liberta 
da obsessão 
de querermos ser deuses.
É um sangue que se derrama sobre todos, 
até sobre os Anjos, porque todos precisamos
 dele, nós que temos uma vida alimentada 
por seu Corpo e Sangue.
Chamamos a atenção para o fato de que, 
no ícone de São Damião, o sangue 
brota sempre 
como uma flor, que traz vida para o mundo. 
É um sangue que já não martiriza o Crucificado; 
enaltece o Ressuscitado.
As chagas dos pés de Jesus derramam 
o sangue 
de vida sobre outras pessoas representadas
 na parte
de baixo da cruz. A única ainda identificável 
é São 
Pedro, sobre quem Jesus edificou o seu povo 
novo.
Nesta parte do crucifixo estão 
representados
 os Santos da terra, que segundo o
 evangelho 
de São João estavam ao pé da Cruz: 
Nossa 
Senhora e São João à esquerda, 
Maria Madalena, Maria mãe de Tiago 
e o centurião à direita.
À esquerda, em tamanho bem menor, 
está o soldado São Longino, 
que teria dado a lançada em Jesus.
A direita há outra figura pequena, 
em que alguns vêem um sumo sacerdote, 
em atitude petulante, provocando Jesus 
para descer da cruz.
Maria Madalena tem a cabeça quase encostada 
com a da outra Maria, porque lhe confia um segredo 
ou porque comentam a ressurreição, de que foram as 
primeiras testemunhas.
Maria, mãe de Tiago representa todo o grupo de
mulheres que sempre seguiram Jesus e
 cuidavam dele. 
Muitas delas estavam ao pé da cruz.
O centurião não tem auréola. Por alguns 
é interpretado 
como o centurião que comandou a crucifixão de Jesus
e mostra três dedos porque reconheceu a Deus 
depois da crucifixão. Para outros é o 
centurião bondoso
 cujo filho Jesus curou.
Detalhes: um galinho e uma fogueirinha poderiam 
estar indicando que a figura abaixo é São Pedro, 
que negou Jesus junto à fogueira e ouviu o
 galo cantar.
 Foi testemunha da ressurreição.
As conchinhas, que cercam todo o ícone, 
eram símbolos da vida eterna, porque costumam 
ser bonitas e duráveis. Parece que foram 
acrescentadas à tábua original.
Nos dois extremos horizontais da 
cruz de São Damião, estão 
duas figuras semelhantes, que 
se dirigem a Jesus. Há discordância
 na sua interpretação. Alguns 
vêem dois anjos, que estariam 
no túmulo quando Maria Madalena 
e a outra Maria foram preparar o 
corpo de Jesus com mirra e foram as 
primeiras testemunhas da ressurreição.
Outros, como nós, vêem as santas
 mulheres. Os ícones da 
ressurreição costumavam 
representar as “myrrophores”, 
sto é, as que levavam mirra.
O Cristo de São Damião não está morto, 
É o Cristo que, morrendo, venceu a morte. 
Por isso, não tem coroa de espinhos, derrama 
o sangue, mas não está todo ensangüentado, 
tem os pés bem plantados, os cabelos bem 
arrumados e os braços em posição de oração.

Na iconografia síria, de onde é originado este crucifixo, 
a ressurreição era simbolizada por um caixão aberto. 
Por isso, ele também repousa sobre um fundo negro, 
mas, todo luz, é vencedor da morte.
Um sinal da vitória e da ressurreição neste ícone 
é o pano que reveste Jesus: Sua construção é bem
 elaborada, com um nó caprichado e debruns de ouro.
 De fato, os crucifixo mais antigos costumavam 
representar Jesus com paramentos sacerdotais e 
até mesmo com vestes régias, usando uma coroa
 de ouro na cabeça.
Jesus está dentro de um círculo vermelho. 
É nosso mundo. Jesus está saindo dele:
 seus pés, 
um acima do outro demonstram que está
 subindo. 
Como está com a cabeça e a mão direita fora 
do círculo, está saindo do nosso mundo. 
Chegando junto aos santos e ao meio-círculo
 da Trindade, está entrando no mundo 
do mistério, 
que ainda temos que descobrir 
para ir tendo vida plena.
No alto da Cruz, três círculos se sucedem, 
diminuindo de baixo para cima. 
O Crucificado-Ressuscitado é o maior e mais próximo.
 O da ascensão já menor, porque está mais longe. 
O do Pai e do Espírito Santo, além de ser o 
mais afastado e, por isso, menor, contém só a 
metade de baixo.
Nós não vemos o Pai e o Espírito Santo, 
porque eles são comunicados na Palavra, 
que é Cristo, o Filho. Sobre o Pai e o Filho, 
só sabemos o que o Cristo revelou, e há muito
 mais – toda uma outra metade,
 para nós ainda virmos a conhecer.
Sob a mão direita de Jesus, 
dois anjos parecem conversar,
 fazendo gestos de admiração.
 Devem estar comentando o amor
 imenso de Jesus pela humanidade, 
pois deu sua própria vida por ela.
Mas também podem estar 
comentando que a crucifixão e 
ressurreição de Jesus tiveram 
resultado muito maiores, pois o sangue da mão direita, brotando da chaga como uma flor, também cai sobre eles.
Sob a mão esquerda de 
Jesus, outros dois anjos 
equilibram os seus companheiros 
do lado esquerdo.
Dá para observar que esse braço 
da cruz está fora do alinhamento. 
Talvez queira mostrar que em nossas vidas sempre há um lado “esquerdo”, falho.
O encontro com o crucifixo de São Damião foi a maior transformação 
na vocação inicial de São Francisco. Ele passou a ver a presença do
 Crucificado em toda parte.
Por isso rezava sempre quando encontrava uma cruz:
“Nós vos adoramos, santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui em todas as vossas
 igrejas que estão em todo o mundo, e vos bendizemos, porque, pela vossa 
santa cruz, remistes o mundo”. (1Cel 45)
O Crucifixo que São Francisco e Santa Clara encontraram na igreja de 
São Damião iluminou as suas vidas e até hoje traz a luz de Deus para muitas pessoas!


Fonte: Texto: Frei José Carlos Corrêa Pedroso, OFMCap /   
 Montagem: Irmã Magali Gavazzoni FCM e Frei Cícero Araújo da Silva - OFMCap

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